NO FIM DO TÚNEL... A LUZ

Marisa Martins

aloha.marisah@gmail.com

Foto: arquivo pessoal

“Na eternidade/eu quisera ter/Tantos anos-luz/Quantos fosse precisar/ Pra cruzar o túnel...”

Gilberto Gil

Solidão. Angústia. Expectativa. Inquietude. Fascínio. Esperança. Sensações que nos invadem, sentimentos que afloram, ao entrar num túnel. Assim, também, sentimentos no fim de um ano.

É misterioso atravessar túneis e atravessar para outro ano. O que haverá depois da saída? A inquietude avança com o receio pelo desconhecido. A realidade certa, clara, é cômoda. Tememos incertezas.

Mistério e incertezas nos desacomodam – e que contradição – nos fascinam, pois são desafios para seguir em frente, de mãos dadas com a esperança. Assim num túnel. Assim na vida.

Vejo aproximar-se túnel. No canal francês, do Rio Marne ao Rio Reno. Alsácia. Não com chão firme, com asfalto, ou com trilhos, como tantos já cruzados. Túnel com leito de água. Sim, túnel de água. Sob os montes Vosges. Barco no qual se navega aproxima-se da entrada. Inquietude aflora. À frente, outro barco é engolido pela escuridão.

Devagar, bem devagar, quase parando, enfrenta-se o desconhecido. Para desvelamento do mistério. Expectativas latejam. Espantam inquietudes. Inseguranças. Medos.

Coração bate descompassado no encontro com o longo caminho. Como o barco, flutuo, navegando em infinito sonho.

A escuridão ilumina-se de inesperadas luzes, refletindo cores na paz das águas. Traçam fantásticos quadros de irrealidade na fortaleza das pedras da montanha. 

O silêncio de séculos só é quebrado pelo motor do barco avançando. Quase não respiro com temor que o encanto se desvaneça.

As sensações neste túnel são tão diferentes daquelas dos outros. Este nos abraça, calidamente, podemos acariciar a água. Não há angústia. Há leveza e paz. 

Mais de dois mil metros de emoções percorridas, a última   emoção, juntando todos os sentimentos e sensações. Mistério,   fascínio, leveza, carícia, paz, expectativa, unem-se, ali adiante, numa só felicidade.

A felicidade da esperança de ver, no presente, ou na eternidade, não importa de quantos anos-luz seja o percurso:

No fim do túnel, A LUZ...

P.S.: Que 2023 possa ter luzes que brilhem, quando necessário, sempre que houver túneis de dificuldades.