Lênin Landgraf

Mestre em História (UFPel)

leninplandgraf@hotmail.com

Há quase um mês o Rio Grande do Sul passava a enfrentar a maior catástrofe climática de sua história. Até o momento temos 163 mortes, dezenas de desaparecidos e 2,3 milhões de pessoas afetadas por todo o estado. Essa sensação de que o caos persiste, semana após semana, nos traz memórias não tão antigas, de 2020.

Ocorre que, de lá para cá, fica cada vez mais nítido que o poder público e seus representantes tem grande parcela de culpa no que está acontecendo. Seja por omissão, despreparo ou falta de preocupação com os que foram afetados, diversos prefeitos, deputados, senadores e o governador Eduardo Leite se mostraram despreparados para apontar uma solução.

A capital gaúcha, liderada pelo prefeito Sebastião Melo (MDB), está um verdadeiro caos até hoje. Com o decorrer dos dias mais e mais depoimentos de funcionários públicos, especialistas e documentos vieram à tona demonstrando que a prefeitura de POA não apenas ignorou diversos alertas, mas também sucateou o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), principal responsável pelo acionamento das bombas de água que deveriam impedir a enchente na capital. Ainda, a prefeitura deixou de realizar as manutenções no muro de contenção e em suas comportas e sequer as fecharam corretamente no início de tudo. Isso não é tragédia, isso é projeto político.

A precarização do DMAE escancara o plano político do prefeito de POA e seus correligionários de mesmo partido e linha ideológica: acabar com o setor público para privatiza-lo. Ocorreu o mesmo com a CEEE e com a Corsan, privatizadas pelo governador Eduardo Leite (PSDB). Ainda no que tange o prefeito Melo, as patacoadas em entrevistas coletivas foram diversas. A colega Marcela Donini, em sua coluna no “Matinal News”, assertivamente afirmou: “Não há outra conclusão possível: Sebastião Melo desistiu de gerenciar a crise na capital gaúcha.”

O prefeito de Porto Alegre, completamente perdido, responsabiliza a população pelos problemas enfrentados. No mesmo sentido, Eduardo Leite, que aparentemente adora aparecer com o colete da Defesa Civil, não da uma resposta a altura que o povo gaúcho precisa. Em entrevista, o governador gaúcho declarou que “Estudos alertaram, mas o governo também vive outras agendas”. Um verdadeiro deboche com toda a população do RS. Leite e seu governo sabia o que estava por vir e mesmo assim aprofundou o sucateamento da Defesa Civil estadual e das prevenções em eventos como esse. Mais uma vez, digo e repito: isso não é tragédia, é projeto político. As outras agendas do governador são mais importantes que as vidas perdidas?

Em tempo, alguém sabe por onde anda o Senador General Mourão (Republicanos)? Eleito pelo RS, na onda bolsonarista, não tenho conhecimento de nenhum projeto do político para nosso estado. Em entrevista recente para a Rádio Gaúcha declarou que não poderia estar a frente dos esforços no estado pois seria desvio de função. Que vergonha. Mais uma vez, deboche com o povo gaúcho.

Todos os responsáveis devem ser investigados e punidos. Se não pela justiça, pelo o povo nas próximas eleições. Eles voltarão, pedindo mais uma vez votos. Não podemos esquecê-los.