Marisa Martins
CHAPÉU DE LEMBRANÇAS
Marisa Martins aloha.marisah@gmail.com
Meu pai usava terno de linho branco, engomado. E chapéu Panamá.
Muitos talvez lembrem de fotos, filmes ou documentários sobre o brasileiro Santos Dumont, pai da aviação; músico Tom Jobim; presidente Getúlio Vargas; estrategista militar da 2ª Guerra Mundial, Winston Churchill.
O que eles têm em comum, além de serem famosos?
Num primeiro momento, difícil responder. Talvez bons observadores lembrem de detalhes da indumentária que os une: um certo chapéu.
Chapéu Panamá – este o nome do elo entre eles. Faria outra pergunta: tem o nome, por que é feito naquele país?
A resposta, ironicamente, é não. Originário do Equador, neste país é confeccionado.
As cidades de Montecristi e Cuenca são os principais centros artesanais de confecção deles. Feito manualmente da fibra Toquilla.
É fonte de renda para os artesãos, em geral, com famílias inteiras trabalhando para os confeccionar.
Por que o nome? Visitando obras do Canal do Panamá, 1890, presentearam presidente americano, Theodore Roosevelt, com El Fino, nome dado a chapéu equatoriano. Trabalhadores o usavam para proteger-se do sol caribenho. A partir daí, ficou famoso. Passou a ser denominado Chapéu Panamá, não Equador.
Meu pai usava o Panamá. Se era do Equador, não sei.
Chegando ao porto de Manta, no país que fabrica o chapéu, saudade e lembranças vieram à tona. Reencontrei-me com os Panamá, ali expostos para venda.
Filme desenrolou-se na mente. Terno de linho branco, engomado, gravata, lenço de seda bordô, no bolsinho do paletó, sapatos brancos, bico de verniz preto, eis meu elegante pai. Na cabeça, garboso Panamá.
Esse, o traje para festas, no verão. Casamentos, batizados, aniversários, formaturas.
Assim, trajado sempre lembrar-me-ei dele. Mesmo numa bicicleta Monark, ao volante de um ônibus, ou num Ford “bigode” sem capota.
Coração aperta. Meu pai, porém, está comigo. Eu o vejo, eu o sinto.
Conduzindo-me com mão forte e segura, para nunca me deixar abater. Terno de linho branco, engomado.
Um chapéu Panamá. Agora, de lembranças...
P.S.: Emoção transborda ao pensar nele.
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