Ique de la Rocha
O Dia da Umbanda
Uma religião brasileira que pratica a caridade e a humildade.
Ique de la Rocha
O feriado desta sexta-feira é alusivo à proclamação da República, mas a data também nos remete à religião da Umbanda, eminentemente brasileira, que surgiu em 15 de novembro. Naquele dia, em 1908, o jovem Zélio de Morais, que vinha apresentando comportamentos estranhos e reações semelhantes a ataques de epilepsia, foi levado por sua mãe, que não encontrava solução na medicina, a um centro espírita em Niterói (RJ). Durante os trabalhos daquela casa, manifestou-se nele um espírito que tinha uma fala diferente das entidades que lá costumavam se manifestar. Os médiuns da mesa num primeiro momento tentaram mandá-lo embora, acreditando tratar-se de um espírito perturbador, mas este insistia em ficar. Foi quando alguém sugeriu, então, que o espírito desse sua mensagem e depois se retirasse. Foi quando a entidade, que identificou-se como Caboclo das Sete Encruzilhadas (“Para mim não há caminhos fechados”), disse que estava ali para fundar uma nova religião, a Umbanda.
Magia Branca
Tenho visto que até mesmo alguns integrantes da Umbanda, mal informados, costumam dizer que a religião tem origens afro, mas não. O ritual de certo modo se assemelha às religiões afro, como os tambores, mas a explicação que tenho em várias leituras que confio bastante, é diferente.
Diz a história que, com a libertação dos escravos após a Lei Áurea, os cultos trazidos da África estavam caindo no gosto popular, só que muitas vezes praticados sem maior conhecimento e sem a disciplina que a mediunidade exige. Em grande parte, essas evocações estariam sendo utilizadas mais para o mal que para o bem. A espiritualidade, temendo que o Brasil viesse a se transformar num país de magia negra, teria, então, decidido pela criação dessa nova religião, que viria praticar a magia branca, o antídoto para combater as maldades. Os espíritos, mais evoluídos que nós, viriam na roupagem de caboclos e pretos velhos, por terem tido alguma ligação, em vidas passadas, com índios e escravos. Já o ritual lembraria um pouco os cultos afros como forma de atrair as camadas mais populares inicialmente.
Espíritos de luz
É errado quando adeptos de outras religiões tentam dizer que os espíritos da Umbanda são atrasados, por serem caboclos e pretos-velhos. Certamente esta é mais uma forma de preconceito, até porque muitos desses índios e escravos sofreram muito por terem sido explorados e, provavelmente, vários deles evoluíram e devem estar com muitas luzes no mundo espiritual. Certa vez um caboclo me disse que a última encarnação dele na Terra foi como médico. Alguns foram juízes, empresários, operários, profissionais liberais, pobres, ricos, doutores, tanto faz. O importante é que são espíritos de luz, já num estágio espiritual superior ao nosso, que vem para nos auxiliar e extremamente humildes, ao ponto de não revelarem sua verdadeira identidade e se apresentaram com um nome fantasia (cabocla Jurema, caboclo Tupinambá, cabocla Yara e por aí vai).
Uma espécie de lema, que muito se ouve na religião, é que quem entra numa casa de Umbanda tem de sair melhor do que chegou. Tudo lá é pura energia, onde os cânticos são mantras, a defumação e a gira dos médiuns são para também energizar o ambiente. Em todos os centros que conheço tem sempre em destaque a imagem de Cristo e, de fato, as maiores virtudes pregadas por Ele são a caridade e a humildade, práticas de que a Umbanda nunca se afastou. No Rio Grande do Sul o primeiro centro de Umbanda foi fundado em nossa cidade por Otacílio Charão.
Parabéns a todos os umbandistas pelo trabalho maravilhoso que realizam. Admiro muito esta bela religião que, infelizmente, é atacada por muitos, mas que não ataca ninguém. Também não pega dinheiro de ninguém, porque caridade não se cobra. Quem quiser conhecer, vai ser sempre bem recebido ou recebida.
Contatos com a coluna pelo email: iquedelarocha@gmail.com
COMENTÁRIOS