Deus, Pátria e Família

Um lema atraente, mas na prática a teoria tem sido outra. 

Nos últimos anos emergiu no Brasil o chamado público conservador, que utiliza o lema “Deus, Pátria e Família”, revivido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e que nos anos de 1930 foi adotado pela Ação Integralista Brasileira, inspirado no movimento fascista italiano de Benito Mussolini. 

Falar em “Deus, Pátria e Família” soa bonito. Ser defensor dessas causas é muito meritório, excetuando, claro, o movimento integralista. Também tem um impacto positivo como discurso, em condições de angariar muitos simpatizantes e votos.

Mas a história nos mostra que em nosso mundo muito se matou e muita infelicidade foi ocasionada em nome de Deus, da Pátria e da família. Na última campanha presidencial teve líder religioso dizendo que o exército de Deus, várias vezes mencionado no Antigo Testamento, era o mesmo que o das nossas Forças Armadas para justificar o golpe que estava sendo tramado. Sem falar que o fanatismo religioso, como todo radicalismo, só causa ódio e desunião entre as pessoas. Quantas guerras foram feitas e quantos regimes ditatoriais e sanguinários foram criados em nome de Deus!

Também não acredito em quem se diz patriota, mas não está nem aí para o povo que vive em seu país. O Brasil é muito rico (tanto que roubam, roubam e ele continua em pé). Mesmo assim, nossa maior riqueza ainda é o brasileiro e precisamos de iniciativas que deem oportunidades às pessoas e não apenas a alguns pouco privilegiados. Existem muitos talentos anônimos, marginalizados, inteligências que se fossem incentivadas dariam um grande retorno ao país. Por isso, também não entendo alguns que se auto-intitulam “patriotas” e defendem partidos ou governos que simplesmente excluem os pobres da economia e de seus projetos. São generosos quando se trata de beneficiar os mais privilegiados, mas colocam obstáculos em qualquer pauta que vá beneficiar os necessitados e/ou minorias. Agora mesmo, deputados e militantes são contrários à isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil, mas defendem o atual sistema de imposto que alivia a taxação sobre os muito ricos. 

Já entre os que defendem a família (como se ninguém mais defendesse a família), tem alguns moralistas que chegam a ter mais de uma, de tanto que gostam.

Ainda existem os que defendem o armamento, os que pretendem obrigar mulheres pobres vítimas de estupro a terem seus filhos (nem ao menos apresentam um projeto de planejamento familiar ou de amparo a essas vítimas . Simplesmente que cada uma se vire como pode). Em Santa Catarina prefeitos foram aplaudidos por correrem os mendigos de suas cidades. Em São Paulo, a Polícia Militar vem matando ou jogando inocentes de pontes. Presenciamos no dia-a-dia manifestações radicais, raivosas que nada tem a ver com Deus, Pátria e Família. Mas é a nossa realidade e tem quem apoie. 

Sobre a Ação Integralista Brasileira

Inspirado no regime de Benito Mussolini, a versão brasileira do regime fascista buscou romper as tradições da velha política com um discurso autoritário, antiliberal e antidemocrático. Tinha como base o nacionalismo, o anticomunismo e a radicalização da religião cristã conservadora.

O integralismo brasileiro defendia um Estado unitário nos moldes do regime fascista com a construção de um Estado Integral de partido único, autoritário e antiliberal. O documento aberto com a expressão“Deus dirige o destino dos povos” colocava a espiritualidade como eixo central de ação integralista e dava ao líder o status de chefe religioso.

Seguindo o modelo do fascismo italiano, o chefe nacional tinha o poder centralizado e não poderia ser contestado. A lógica de superioridade política e religiosa gerou o culto à personalidade do fundador Plínio Salgado que era responsável por orientar, doutrinar, executar tendo poder total e permanente.

Gustavo Barroso se tornou o segundo nome mais importante dentro da AIB, nomeado comandante-geral das milícias e membro do Conselho Superior. Participou nos círculos autoritários e conservadores como principal representante do antissemitismo brasileiro. Para ele, os judeus eram os responsáveis pelos problemas econômicos do Brasil e atribuía a eles a degradação da sociedade. Pelas características diversas da sociedade brasileira, defendia a raça brasileira.

A parte mais controversa dessa estrutura foi a formação de uma milícia denominada Forças Integralistas (FI). Uma organização paramilitar sob o comando de Plínio Salgado. Nessa estrutura, todos os jovens integralistas com idades de 16 a 42 anos eram obrigados a inscrever-se e, após treinamento, jurarem completa submissão e fidelidade aos superiores hierárquicos e à causa integralista. A milícia deixou de existir publicamente após o decreto de Lei de Segurança Nacional promulgado em 1935, por Getúlio Vargas. 

Negros e mulheres

As características culturais de formação da sociedade brasileira, fez com que os integralistas defendessem a miscigenação e a formação da “raça brasileira”. Mas a presença de negros foi condicionada ao reconhecimento da importância deste na construção da nação sem, contudo, abrir mão da supremacia branca.

Embora com limitações, as mulheres eram incentivadas a participar do movimento integralista, embora com papéis bem formatados. As profissões estimuladas às mulheres eram aquelas consideradas extensões do lar como enfermeiras, secretárias e carreiras referentes à educação.

Plínio Salgado dizia que o trabalho fora do lar e a busca por satisfazer os desejos materiais era a principal causa da destruição das famílias. Por isso exaltava a feminilidade e o papel da maternidade como principal função da mulher, que era a de preparar e educar as futuras gerações da pátria.

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