Marisa Martins
Calçados contam Histórias
Alguns calçados fazem parte de museu com inesquecíveis histórias...
CALÇADOS CONTAM HISTÓRIAS
Marisa Martins
aloha.marisah@gmail.com
Alguns calçados fazem parte de museu com inesquecíveis histórias...
Descubro, atrás de malas, em pequeno quarto, prateleiras com relíquias: coleção de calçados, lembrando histórias. Até um par de galochas amarelas (quem lembra o que é galocha?).
Justamente por isso estão ali. Fazem parte de museu com inesquecíveis momentos. Ou, quem sabe, aguardavam por este minuto de fama, sendo lembrados? Aliás, um deles já o teve. Foto correu mundo virtual.
O astro, par de tamancos-edifício, inclusive com garagem, lembra glória e vexame. Comprado em Freiburg, na Alemanha, viajou de trem, majestoso, para Lucerna, Suíça. Na estação, ao desembarcar, surge longa escada rolante.
Do alto dos edifícios, ops, dos tamancos, não se divisa primeiro degrau. Pisando o seguinte, perco equilíbrio e rolo com ele. Deitada. Mala voa. Lá embaixo, coincidência. Turista brasileira corre pra me amparar
No corpo estirado e dolorido, sobram os tamancões, altaneiros... sem sair dos pés.
Par peruano, junto ao alemão, atiça memória. Retorno de Machu Picchu para Lima. Na mala, só roupas para frio. Faz repentino calorão. Calço botas sem meias. Alguns passos, dores agudas nos calcanhares. Bolhas abertas.
Procura por loja. Tamanco expõe-se. No salto enorme, zíper. Seria tamanco-cofre? Na desdita, arrasto-o pela calçada.
Mais peças guardam tragicomédias. Objetos de desejo acenam das vitrinas, na ilha de Ibiza, Espanha, terra do tudo pode. Sandálias com plataformas enormes. Da planície de 1,60m atingiria poderosa altura de modelo.
Há calçados, disse vendedor argentino, que servem apenas para coqueteria: desembarcar do carro, entrar em festa, sentar e cruzar pernas para os exibir. Aguardar último conviva levantar e... sair de pés descalços.
Coqueteria com sandálias de Ibiza? Tentativas de caminhar com elas enrijece musculatura das panturrilhas. Altura de modelo. Imobilidade de estátua. Antes de cair do pedestal, traumatizante desistência.
Vexames e traumas. Mesmo assim, pensei não me desfazer dos símbolos pisantes. Certo dia, contudo, foram-se. Restaram lembranças, apenas.
Escondidas atrás de malas...
P.S.: Não vale a pena apegar-se a algo,
só para o possuir. Que deixem lugar
para outras histórias.
Foto: arquivo pessoal
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