Laura Cosme
Na contramão do clima: por que o poder público e a sociedade civil seguem ignorando as mudanças climáticas?
O ano de 2024 foi o mais quente já registrado na história: a temperatura média global foi superior a 1,55 °C. Por que continuamos adotando uma posição negacionista diante desse cenário catastrófico?
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O estado de emergência climática é uma necessidade clara para agir rapidamente na mitigação das mudanças do clima, pois é um fenômeno que está afetando todos os aspectos da vida humana. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado na história: a temperatura média global foi superior a 1,55 °C, do Acordo de Paris, relativo à média pré-industrial de 1850-1900. Os dados foram divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Sob essa onda, altas temperaturas, chuvas excessivas, inundações e secas estão fazendo com que, cada vez mais, a academia e a ciência tentem trazer este assunto para a pauta do cotidiano. Afinal, esses fenômenos impactam diretamente em nossas vidas e, ainda assim, é só a ponta do iceberg do que está por vir.
Contudo, mesmo com tantos alertas de cientistas e ambientalistas, a sociedade civil e, sobretudo, o poder público, parecem estar na direção contrária da preservação do clima. A pergunta que não quer calar é: por que continuamos adotando uma posição negacionista diante desse cenário catastrófico?
Os dados sobre as transformações do planeta são vastos e acessíveis a todos, logo, a ignorância não deveria ser uma opção. Porém, o que parece é que a desconexão entre ciência e política está ganhando força nesse cenário,fazendo com que o debate sobre as transformações do clima, frequentemente, seja prejudicado por questões ideológicas.
Em conversa com o ecólogo e professor da Furg, Marcelo Dutra, ele comentou que o principal causador de tantas transformações do clima é o próprio ser humano. Nesse sentido, levanto o questionamento: como pode uma cidade ter sido atingida por uma enchente que afetou, diretamente, mais de 70 mil pessoas e, meses depois, tudo seguir igual? Até o momento, vemos que a preocupação momentânea só serviu para entrar na moda da “Reconstrução”. Enquanto a sociedade civil e o poder público seguirem ignorando essa pauta, a situação irá seguir se repetindo.
La Niña
Nove meses após a enchente de maio de 2024, agora, vivemos um contexto antagônico: a seca. A chegada do fenômeno La Niña — que deve perdurar até abril — irá fazer com que a comunidade rio-grandina enfrente mais essa. As altas temperaturas registradas nesta semana na cidade já apontam que a La Niña não veio de forma neutra.
Enquanto o setor pesqueiro segue otimista com o desenvolvimento da safra do camarão, no campo, os agricultores já sentem os impactos da chegada de mais um evento extremo. Já na cidade, sofremos com o calor exorbitante. Tu já paraste para pensar que teus hábitos de vida também são os responsáveis pela forma em que as estações do ano se comportam?
Neste ano, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 irá ocorrer na cidade de Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro. O evento deve reunir autoridades e ambientalistas de diversos países.
A expectativa da organização Greenpeace Brasil é que o fim do garimpo na Amazônia e os direitos ambientais dos indígenas entrem na pauta. Contudo, às vésperas de um ano eleitoral, alguns ativistas do clima também sentem o medo de que os debates na COP 30 não passem de promessas de campanha.
Mesmo assim, essa será não só uma oportunidade de denunciar o sofrimento das pessoas diretamente impactadas pelo clima e pelas políticas ambientais brasileiras, como também um momento favorável para provocar uma mobilização social para que o setor público e privado invista de forma massiva em pesquisa científica e educação ambiental. Ainda estamos longe do cenário ideal de termos legislações ambientais eficazes, porém, essas ações podem ser um começo — muito otimista — de irmos para a direção do clima.
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